Daí por diante, Aimée passou a buscar a presença de Deus. Não perdia tempo para orar e ler a Bíblia. Diz Aimée que, quando orava, falava com Cristo, e quando lia a Bíblia, Ele falava com ela. No entanto, chegou o dia que esta serenidade foi abalada ao analisar: O Senhor dá tudo e eu só recebo. O egoísmo é um traço de caráter abominável. Senhor, que posso fazer em troca? Aimée busca resposta na Bíblia “... o que ganha almas é sábio e... resplandecerá como as estrelas sempre e eternamente”. É como se uma voz poderosa falasse em tom de clarim: “Agora que você foi salva, vá, ajude a salvar os outros”.
Orando de joelhos, Aimée, em sua imaginação, viu um grande rio, veloz e impetuoso, tragando milhares de pessoas em sua correnteza e levando-os à morte. Então, disse: “da mesma forma como eu fui resgatada, deveria estender minhas mãos para todos quantos pudesse alcançar, a fim de trazê-los para um terreno seguro. Estaria disposta a cruzar o continente de joelhos só para resgatar um pobre pecador. Mas, como posso fazer isso? Eu, que sou filha de fazendeiro e moro a quilômetros da cidade? Como posso almejar ganhar almas um dia? Além disso, só os homens têm permissão para pregar”.
Muitas indagações surgiram na mente de Aimée sobre o ministério da mulher. Tentou encontrar resposta com sua mãe para muitas delas. No entanto, foi na Bíblia que ela descobriu que Débora, uma mulher, havia comandado esplêndidos exércitos. A mulher, junto ao poço, pregou o primeiro sermão de salvação e levou uma cidade inteira a Cristo. E em meio a tanto desejo de pregar a Palavra de Deus, Aimée não desistia de quem a pudesse ajudar e, numa noite, quando voltou para casa, encontrou sua mãe examinando a Bíblia para responder suas perguntas. “Minha querida, descobri que os dons de Deus jamais foram cancelados. A promessa é para todos quantos o Senhor nosso Deus chamar”. Assim, Aimeé pensou na passagem bíblica: “Nos últimos dias o Espírito Santo será derramado sobre toda carne, vossos filhos e filhas profetizarão... ... Então, eu também buscarei a plenitude do Espírito”.
Certa noite, enquanto Aimée estava na casa de um vizinho com duas crianças que tinham apanhado febre tifóide, a porta se abriu e Robert Semple, o evangelista, surgiu diante dela. Um impulso de alegria a envolveu. Robert havia chegado de Stratford e, sabendo que as crianças estavam doentes, foi até lá em visita. Naquela noite as crianças tiveram os dois como enfermeiros. Aimée e Robert conversaram por algum tempo a respeito das cartas que trocavam, do batismo com o Espírito Santo que ela havia recebido, e do grande desejo que ela tinha de ser ganhadora de almas. Ao olhar os livros espalhados sobre a mesa Robert, deparou-se com o de geografia e ele, folheando as páginas, abriu no mapa do Oriente, dizendo: “A China será o meu desafio, meu destino e meu alvo”. Aimée suspirou. “Gostaria de dedicar a minha vida a uma causa como esta”. E foi justamente sobre isso que Robert desejava falar com ela. A voz do homem que a ganhara para Cristo atravessara sua fantasia. “Sei que tem apenas 17 anos, mas eu a amo de todo o coração. Já que vai completar 18 em breve, quer se casar comigo e ir para a China?” Aimée ficou olhando estarrecida para ele. O rosto honesto não conseguia falar, mas um desejo irreprimível de ajudá-lo nasceu em seu coração. Ela sabia que o amava profundamente, amava seu ministério, seu Cristo, seu ensino, sua mensagem. Não foi preciso responder imediatamente.
Aimée e Robert SempleAimée logo aceitou Robert, que falou com seus pais, pedindo consentimento. De maneira simples e franca tiveram sua bênção e em 22 de agosto de 1908 se casaram. Segundo Aimée, ele foi o seu Seminário Teológico, seu mentor espiritual, seu marido terno, paciente e dedicado. Para ajudar no salário como evangelista, Robert trabalhou numa fábrica de caldeiras. Os dias melhoraram e ele foi chamado para Londres, Ontário e Chicago. Ele trabalhava incansavelmente para Deus e Aimée fazia as tarefas menores, cuidava da casa, tocava piano e orava com os convertidos. “Vamos para a China em seis semanas”, anunciou Robert certa noite. A situação preocupara a jovem esposa, que se via partida, sem a tutela de uma organização missionária, sem dinheiro, sem nada. Apenas a fé e a confiança que Robert tinha no Senhor.
Ao pregarem numa igreja de italianos, ao se despedirem foram surpreendidos com ofertas em dinheiro, cheques, ouro etc. Quando chegaram em casa, a soma deu para as passagens e um pouco mais. Durante uma viagem para a Irlanda, logo antes de irem para a missão na China, Aimée conta ao marido que está grávida. Após passarem na Inglaterra, onde Aimée fez sua primeira pregação para 15 mil pessoas, numa igreja de um milionário conhecido de Robert. A oferta do dia foi oferecida ao casal para a missão na China. Lá chegando, ficaram algum tempo num importante trabalho e foram treinados para tarefas específicas. O povo era místico, o sol escaldante e a língua difícil, além dos camundongos e dos rituais.
Em determinado momento, os dois contraíram malária tropical. Apesar de ainda doente, Aimée se preocupava com o marido que estava no hospital e queria manter-se informada sobre ele. Aimée se mantinha acordada, vigiando sobre a cama de Robert. Em vigília no hospital, a enfermeira caminhou na direção de Aimée. “Levante-se depressa, ponha o robe e os chinelos”. Tremendo como uma folha de papel, Aimée sentia que Robert estava morrendo, e gritava, de algum modo sabendo que gritaria. Nesse mesmo momento, os braços fortes do Senhor a envolveram e ela sussurrou com os lábios endurecidos: “O Senhor o deu para mim e da mesma forma o tomou. Bendito seja o nome do Senhor”.